quinta-feira, 23 de outubro de 2008

BAIANA DO INSTITUTO STEVE BIKO RECEBE PREMIO jOVEM CIÊNTISTA 2007

Sheila Regina dos Santos Pereira, integrante da equipe pedagógica do Instituto Cultural Steve Biko (ICSB), é a grande vencedora do Prêmio Jovem Cientista 2007, que teve como tema Educação para reduzir as desigualdades sociais. O prêmio, que existe desde 1981, é um dos mais importantes da América Latina. Mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Grupo Gerdau e a Fundação Roberto Marinho, seu objetivo é revelar talentos e estimular pesquisas que apontem alternativas expressivas para problemas brasileiros. Nessa edição, concorreram centenas de trabalhos de todo o país, dedicados a investigar perspectivas factíveis de redução das iniquidades sociais, tendo a educação como vetor fundamental.

Com a pesquisa 'OGUNTEC: uma experiência de ação afirmativa no fomento à iniciação científica', orientada pelo professor Abraão Felix (Universidade Estadual da Bahia), Sheila realizou um estudo acerca da trajetória de 35 estudantes negros(as) no programa Oguntec, mantido pelo ICSB desde 2002. 'O trabalho é resultado do acompanhamento pedagógico desses estudantes, todos negros e oriundos de escolas públicas, entre os anos de 2005 e 2007. Nele, traçamos um paralelo entre o quadro social brasileiro e a realidade deles, suas limitações, êxitos, problemas com auto-estima, dificuldades de aprendizagem, dentre outros aspectos', expõe a jovem pesquisadora, vencedora da categoria graduado.

Formada em Estatística pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Sheila conhece muito bem a realidade do seu objeto de estudo. Estudante, negra, egressa da escola pública, ela também vivenciou na prática as agruras da falta de políticas de incentivo à produção do conhecimento entre os jovens, sobretudo negros e negras: 'No Brasil apenas 10% dos negros com menos de 30 anos têm formação superior completa. Isso é resultado de um longo processo de segregação e ausência de políticas efetivas voltadas para atender essa parcela da sociedade', enfatiza.

De malas prontas, ela viaja para Brasília no próximo dia 22 de outubro, quando participará da coletiva de apresentação à imprensa dos vencedores do prêmio. A cerimônia de premiação acontece em novembro, quando receberá o prêmio máximo dessa edição das mãos de ninguém menos que o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.

Quando questionada sobre o que pretende fazer com os R$ 20 mil disponibilizados pela premiação, responde: 'Doar para o Instituto Steve Biko e seus projetos educativos. O instituto já possibilitou o ingresso de mais de mil estudantes ao ensino superior, eu sou um deles. Aqui, mais do que disciplinas, aprendemos a viver em co-responsabilidade e compartilhar com o coletivo os frutos que tivemos o privilégio de obter'. O vínculo de Sheila com ICSB deu-se em 2002, ainda como estudante de um outro projeto, o Pré-Vestibular Steve Biko. Depois de ingressar na universidade, retornou como voluntária da equipe pedagógica do programa Oguntec, do qual faz parte até hoje.

SOBRE O OGUNTEC
O Oguntec é um dos principais programas educativos do Instituto Steve Biko. Seu objetivo é fomentar e difundir a ciência e tecnologia entre estudantes de escolas públicas e possui como estratégia metodológica três eixos básicos de ação: Elevação da Escolaridade, Popularização da Ciência e Tecnologia e Inclusão Digital.

'Esses estudantes passam pelo mesmo tipo de dificuldade que enfrentei. Muitos chegam ao instituto e sequer têm coragem de se submeter ao exame vestibular, por julgarem algo totalmente distante de sua realidade. Foi isso que me impulsionou a realizar esse estudo, mostrar a forma como socialmente são construídos mecanismos que sabotam os sonhos desses jovens e a necessidade de políticas públicas efetivas para reverter essa realidade', ratifica a entrevistada.

Jordeson Nascimento, 19 anos, é um exemplo disso: 'Antes, não tinha muita perspectiva de cursar uma universidade, principalmente pública, mas ao ingressar na Biko entrei em contato com um processo de aprendizagem mais interativo e questionador, que nos faz mais austero. Então criei coragem e enfrentei o bicho-papão do vestibular. Hoje, sou estudante do curso de Arquitetura, da UFBA, e de Engenharia de Produção Civil, da UNEB', expõe o ex-estudante do Oguntec.

Fundado em 31 de julho de 1992, por estudantes universitários ligados ao Movimento Negro, o Instituto Cultural Steve Biko é uma organização não governamental sem fins lucrativos, que tem como missão promover a ascensão social da população negra através da educação e do resgate de seus valores ancestrais. Ao longo desses anos, o instituto participou ativamente de importantes conquistas sociais, como a institucionalização de ações afirmativas nas universidades públicas baianas e a fundação de programas como Diversidade na Universidade, do Governo Federal. Atualmente, o Steve Biko prepara-se para dar um grande passo no processo de consolidação de sua missão: construir uma instituição de ensino superior que valoriza a diversidade étnico-racial, contemplando os saberes e fazeres da cosmovisão africana e das suas diásporas na produção de conhecimento.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Renda de negros e pardos é menor que a metade da dos brancos, diz Ipea

Os negros e pardos, segundo os últimos dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Aplicada), têm renda per capita equivalente a menos da metade da renda dos brancos. Pelos dados estatísticos, se o ritmo de avanços por parte dos negros e pardos for mantido, a igualdade racial só ocorrerá em 2029. A solução, de acordo com os especialistas, está na execução de políticas públicas sociais.
"Nós temos um claro problema de desigualdade racial que tem relação com discriminação, racismo e preconceito. Mas os dados não tocam nessas questões", afirmou o diretor de Cooperação de Desenvolvimento do Ipea, Mário Theodoro.
Em seguida, Theodoro disse que "qualquer que seja a variável que está estudando, a população negra está sempre mais precária do que a média nacional, ou seja, a população branca. Sempre nós temos este mesmo resultado".
O diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abraão, lembrou ainda que lentamente as conquistas dos negros e pardos vêm ocorrendo. "Apesar do diferencial ainda existir, os negros estão tendo mais acesso ao ensino fundamental", afirmou. "Em geral negros, nordestinos e pobres têm uma situação [econômica] pior."
Para Theodoro, as melhorias registradas entre os negros resultam dos ganhos que a população brasileira teve como um todo. "Um conjunto de políticas seria benéfico para que os residuais entre negros e brancos fosse erradicado', afirmou o diretor.
Porém, os pesquisadores concluíram que há uma tendência de queda desta diferença econômica entre famílias brancas e negras, mas segundo Theodoro essa é uma análise "otimista". De acordo com ele, é otimismo porque a população negra costuma ter núcleos familiares maiores, portanto, essa tendência pode não se efetivar.
Os dados comparativos, envolvendo os anos 2006 e 2007, mostram redução no número de negros pobres e aumento do percentual de negros e pardos ricos. Para os pesquisadores, a falta de políticas de ação afirmativa reflete diretamente nas possibilidades de mudanças.


RENATA GIRALDI da Folha Online, em Brasília