segunda-feira, 24 de março de 2008

Câmara da Serra homenageia negros

No dia 13 de março, data que marca a Insurreição do Queimado, a Câmara Municipal da Serra realizou uma sessão solene para homenagear personalidades negras. A homenagem principal foi feita a sambista Leci Brandão, que num discurso emocionado falou sobre a sua origem humilde e da importância de ter o seu trabalho reconhecido pelo povo serrano. "Eu fui batizada na igreja de São José, no Rio de Janeiro, e hoje assistindo a essa sessão solene passou pela minha cabeça o filme de minha vida", relata. A igreja do antigo vilarejo do Queimado também é consagrada a São José.
A Insurreição do Queimado, epsódio ocorrido há 159 anos que levou negros escravizados e insurgentes a entrarem para história, ainda não foi bem contada. O livro de Afonso Claudio, o único que ilustra as estantes das bibliotecas, conta que os negros trabalhavam de dia nas fazendas e a noite na construção da Igreja em troca de suas cartas de alforria, que lhes foram prometidas pelo padre José Gregório de Bene. Para a história oficial, os negros se rebelaram por que a promessa não fora cumprida, e desconhece qualquer poder de mobilização e estratégia política por parte dos líderes Chico Prego, Eliziário e João da Viúva contra o regime escravista. Mas para a Serra e para o povo Espírito Santo, eles são heróis.
O livro Negros do Espírito Santo, de autoria das jornalistas Adriana Bravin, Carla Osório e da historiadora Leonor Araújo também recebeu o título Chico Prego durante a sessão solene. A obra, que destaca a participação da mão-de-obra negra na construção do Espírito Santo e da cultura negra na formação da identidade capixaba, é uma voz destoante na historiografia do Estado.

Legenda: Leci Brandão e o vereador Roberto Carlos, proponente da sessão

Foto: Carla Osório

domingo, 23 de março de 2008

Morre a grande dama da cultura capixaba


Demorou uma semana para que eu conseguisse me expressar diante desta perda. Quando a gente perde alguém tão querido uma revisão de vida torna-se necessária. Mas não é para falar de mim que me sento nesta noite de domingo... é para falar dela da minha estimada amiga Rosilda. Antes de mais nada eu preciso dizer a voceis que os legados nem sempre são grandes feitos. Aqueles como obras que esburacam a nossa cidade e atrapalham a nossa liberdae de ir e vir. Os grandes feitos na maioria das vezes são silenciosos. Como por exemplo, exercer com amor o contato com as pessoas. Digo pessoas de todos os tipos, ou como diriam alguns os filhos de Deus. Rosilda era uma mulher especial na casa dela ou em sua companhia eram todos bem-vindos. De uma forma compassiva ela valorizava o melhor de cada um e acolhia de maneira especial todos aqueles que não combinavam com os outdoors da cidade. O mesmo ela fazia com a cidade. Com seu dom especial ela revelava para nós, seus seguidores, as belezas que a periferia esconde dos preconceituosos. Moradora de Santo Antonio, era na sua casa amarela que recebia a fina nata dos talentos, para quem sempre fazia festa. De novo o tratamento era igual para todos, tanto para os desconhecidos quanto para os artistas revelados. No fundo de sua alma, ela sabia que era uma questão de tempo para a cidade acordar da hibernagem, do seu sono cultural.

O enterro de Rosilda fez -se um cortejo. Reuniu o prefeito, o gari, os artistas, os bebados, os poetas, a velha guarda do samba, os funcionarios públicos e a balconista. A todos ela chamava de meus queridos. Do coração de Rosilda brota uma verdadeira lição de humanidade ou se preferir podemos chamá-la de direitos humanos. Este é o legado que a dona da casa amarela, mãe, avó e amiga-companheira, nos herdou sem alardes. E a cidade continua dormindo...


Saudade
Foto: Eu, Jace, Miriam e Rosilda numa noite de celebração