quinta-feira, 23 de outubro de 2008

BAIANA DO INSTITUTO STEVE BIKO RECEBE PREMIO jOVEM CIÊNTISTA 2007

Sheila Regina dos Santos Pereira, integrante da equipe pedagógica do Instituto Cultural Steve Biko (ICSB), é a grande vencedora do Prêmio Jovem Cientista 2007, que teve como tema Educação para reduzir as desigualdades sociais. O prêmio, que existe desde 1981, é um dos mais importantes da América Latina. Mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Grupo Gerdau e a Fundação Roberto Marinho, seu objetivo é revelar talentos e estimular pesquisas que apontem alternativas expressivas para problemas brasileiros. Nessa edição, concorreram centenas de trabalhos de todo o país, dedicados a investigar perspectivas factíveis de redução das iniquidades sociais, tendo a educação como vetor fundamental.

Com a pesquisa 'OGUNTEC: uma experiência de ação afirmativa no fomento à iniciação científica', orientada pelo professor Abraão Felix (Universidade Estadual da Bahia), Sheila realizou um estudo acerca da trajetória de 35 estudantes negros(as) no programa Oguntec, mantido pelo ICSB desde 2002. 'O trabalho é resultado do acompanhamento pedagógico desses estudantes, todos negros e oriundos de escolas públicas, entre os anos de 2005 e 2007. Nele, traçamos um paralelo entre o quadro social brasileiro e a realidade deles, suas limitações, êxitos, problemas com auto-estima, dificuldades de aprendizagem, dentre outros aspectos', expõe a jovem pesquisadora, vencedora da categoria graduado.

Formada em Estatística pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Sheila conhece muito bem a realidade do seu objeto de estudo. Estudante, negra, egressa da escola pública, ela também vivenciou na prática as agruras da falta de políticas de incentivo à produção do conhecimento entre os jovens, sobretudo negros e negras: 'No Brasil apenas 10% dos negros com menos de 30 anos têm formação superior completa. Isso é resultado de um longo processo de segregação e ausência de políticas efetivas voltadas para atender essa parcela da sociedade', enfatiza.

De malas prontas, ela viaja para Brasília no próximo dia 22 de outubro, quando participará da coletiva de apresentação à imprensa dos vencedores do prêmio. A cerimônia de premiação acontece em novembro, quando receberá o prêmio máximo dessa edição das mãos de ninguém menos que o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.

Quando questionada sobre o que pretende fazer com os R$ 20 mil disponibilizados pela premiação, responde: 'Doar para o Instituto Steve Biko e seus projetos educativos. O instituto já possibilitou o ingresso de mais de mil estudantes ao ensino superior, eu sou um deles. Aqui, mais do que disciplinas, aprendemos a viver em co-responsabilidade e compartilhar com o coletivo os frutos que tivemos o privilégio de obter'. O vínculo de Sheila com ICSB deu-se em 2002, ainda como estudante de um outro projeto, o Pré-Vestibular Steve Biko. Depois de ingressar na universidade, retornou como voluntária da equipe pedagógica do programa Oguntec, do qual faz parte até hoje.

SOBRE O OGUNTEC
O Oguntec é um dos principais programas educativos do Instituto Steve Biko. Seu objetivo é fomentar e difundir a ciência e tecnologia entre estudantes de escolas públicas e possui como estratégia metodológica três eixos básicos de ação: Elevação da Escolaridade, Popularização da Ciência e Tecnologia e Inclusão Digital.

'Esses estudantes passam pelo mesmo tipo de dificuldade que enfrentei. Muitos chegam ao instituto e sequer têm coragem de se submeter ao exame vestibular, por julgarem algo totalmente distante de sua realidade. Foi isso que me impulsionou a realizar esse estudo, mostrar a forma como socialmente são construídos mecanismos que sabotam os sonhos desses jovens e a necessidade de políticas públicas efetivas para reverter essa realidade', ratifica a entrevistada.

Jordeson Nascimento, 19 anos, é um exemplo disso: 'Antes, não tinha muita perspectiva de cursar uma universidade, principalmente pública, mas ao ingressar na Biko entrei em contato com um processo de aprendizagem mais interativo e questionador, que nos faz mais austero. Então criei coragem e enfrentei o bicho-papão do vestibular. Hoje, sou estudante do curso de Arquitetura, da UFBA, e de Engenharia de Produção Civil, da UNEB', expõe o ex-estudante do Oguntec.

Fundado em 31 de julho de 1992, por estudantes universitários ligados ao Movimento Negro, o Instituto Cultural Steve Biko é uma organização não governamental sem fins lucrativos, que tem como missão promover a ascensão social da população negra através da educação e do resgate de seus valores ancestrais. Ao longo desses anos, o instituto participou ativamente de importantes conquistas sociais, como a institucionalização de ações afirmativas nas universidades públicas baianas e a fundação de programas como Diversidade na Universidade, do Governo Federal. Atualmente, o Steve Biko prepara-se para dar um grande passo no processo de consolidação de sua missão: construir uma instituição de ensino superior que valoriza a diversidade étnico-racial, contemplando os saberes e fazeres da cosmovisão africana e das suas diásporas na produção de conhecimento.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Renda de negros e pardos é menor que a metade da dos brancos, diz Ipea

Os negros e pardos, segundo os últimos dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Aplicada), têm renda per capita equivalente a menos da metade da renda dos brancos. Pelos dados estatísticos, se o ritmo de avanços por parte dos negros e pardos for mantido, a igualdade racial só ocorrerá em 2029. A solução, de acordo com os especialistas, está na execução de políticas públicas sociais.
"Nós temos um claro problema de desigualdade racial que tem relação com discriminação, racismo e preconceito. Mas os dados não tocam nessas questões", afirmou o diretor de Cooperação de Desenvolvimento do Ipea, Mário Theodoro.
Em seguida, Theodoro disse que "qualquer que seja a variável que está estudando, a população negra está sempre mais precária do que a média nacional, ou seja, a população branca. Sempre nós temos este mesmo resultado".
O diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abraão, lembrou ainda que lentamente as conquistas dos negros e pardos vêm ocorrendo. "Apesar do diferencial ainda existir, os negros estão tendo mais acesso ao ensino fundamental", afirmou. "Em geral negros, nordestinos e pobres têm uma situação [econômica] pior."
Para Theodoro, as melhorias registradas entre os negros resultam dos ganhos que a população brasileira teve como um todo. "Um conjunto de políticas seria benéfico para que os residuais entre negros e brancos fosse erradicado', afirmou o diretor.
Porém, os pesquisadores concluíram que há uma tendência de queda desta diferença econômica entre famílias brancas e negras, mas segundo Theodoro essa é uma análise "otimista". De acordo com ele, é otimismo porque a população negra costuma ter núcleos familiares maiores, portanto, essa tendência pode não se efetivar.
Os dados comparativos, envolvendo os anos 2006 e 2007, mostram redução no número de negros pobres e aumento do percentual de negros e pardos ricos. Para os pesquisadores, a falta de políticas de ação afirmativa reflete diretamente nas possibilidades de mudanças.


RENATA GIRALDI da Folha Online, em Brasília

domingo, 20 de julho de 2008

Mova Caparaó - cidadania e meio ambiente


Apesar do frizinho de 7 graus, a pequena cidade de Muniz Freire, no sul do Estado, ferveu durante a relização do V Mova Caparaó. A mostra audiovisual, que envolve 11 municipios capixabas da região do entorno do Parque Nacional do Caparaó, tem como objetivo exibir e premiar videos com a temática ambiental e promover a cidadania.
Promover o turismo da região cheia de atrativos é um outro objetivo do Mova Caparaó. Muniz Freire , por exemplo, foi construida num vale e esta cercada de belas paisagens, com cachoeiras e um relevo de contornos sinuosos.
Os filmes que concorreran na Mostra Caparoense foram realizados através de oficinas que antecedem o evento. Voltada para o público jovem da região do Caparaó, as oficinas já produziram 158 títulos de filmes digitais desde 2004. Uma forma de colocar a juventude do lugar para contar suas próprias histórias.
Este ano o Mova reuniu na mostra competitiva caparoense 11 documentários, que na opinião do juri superou as expectativas.
Realizadores de várias partes do país também participaram do evento e tiveram a oportunidade de trocar experiencias sobre suas produçoes. A realizadora capixaba Glecy Coutinho, que participou do encontro de realizadores falou sobre o seu documentário, que conta a história de jequitibá rosa ameaçado.
Mas quando o assunto é cinema e meio ambiente as crianças não poderiam ficar de fora. Uma oficina de animação, realizada pela artista plástica Eliza Queiroz e Fran Oliveira, fez criaçada soltar a imaginação e produzir seus próprios vídeos.
Lua cheia no céu e povo se reune na tenda, montada no parque de exposições da cidade, para prestigiar os filmes. É hora de penetrar no território das imagens e do sons. é a magia do cinema que vem encantando platéias de várias gerações.



Premio de melhor Filme Mostra Competitiva Nacional - Terra Livre (Pernambuco)


Premio de melhor Filme Mostra Caparoense - Samba da Saudade (Iúna)


Por Carla Osório

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Black Music de primeira...


Nesta quinta-feira (3 de junho), a partir das 20 hs, para quem gosta de dançar e apreciar uma noite multicultural, venha para o Sou Black. Nesta segunda edição o projeto traz fotografia, pintura e Djs convidados, que busca difundir a cultura negra e chamar a atenção para os artistas contemporâneos capixabas.
A noite continua multicultural. O Dj residente Fábio Carvalho vai dividir a pick up com Regina Destefani e MC Adikto, atacando de Dj. Simone Monteiro e Saskia Sá ficaram encarregadas de mostrar a beleza da arte plástica produzindo obras, durante o evento, que podem ser comercializados. O espaço de moda ficou a cargo de Rogério Campos e Tiago Lacourt, da Samba Club Camisetas, e da designer de jóia Flávia Felipe, da Entre Elas Acessórios. Carla Osório também já confirmou presença com sua exposição de fotos “Negros do Espírito Santo”, agora lançada em CD ROM.
Compareçam e prestigiem....
serviço:
Quinta- feira 03 de julho de 2008
Jazz Café, localizado na Praia do Canto
covert R$ 10,00

terça-feira, 10 de junho de 2008

Um olhar lúdico sobre o nosso acervo iconográfico

Vitória Foto, o resgate do espaço político perdido pela fotografia no Espírito Santo

por Cristina Moura

"É lento ensinar por teorias, mas breve e eficaz fazê-lo pelo exemplo." (Séneca)

O Vitória Foto conseguiu reunir, durante o mês passado e ainda com exposições abertas para a primeira quinzena deste mês, nomes importantes da fotografia dos cenários estadual, regional, nacional e internacional. No Espírito Santo, fotógrafos da nova geração estiveram atentos às discussões na área iconográfica e prontos para aprender com os veteranos, principalmente aqueles que conheceram (e viveram) o trabalho do Foto Clube, fundado em 1946.
Foto: Syã Fonseca
O material foi "absurdamente excelente", na avaliação de Carla Osório, coordenadora e produtora executiva do evento e nossa entrevistada deste final de semana. O evento contou com seis exposições simultâneas e oficinas gratuitas. O público teve acesso a trabalhos de renomados profissionais, como o carioca Walter Firmo, o capixaba Rogério Medeiros, além da presença da ONG Observatório de Favelas, do Rio de Janeiro, ligada à formação de fotógrafos na periferia.O evento foi surpreendente, segundo a coordenadora. Fotógrafa, jornalista, editora da TV Assembléia-ES, Carla se revela apaixonada pelos desafios da imagem. É mestre em Comunicação pela Unip (Universidade Paulista), com a dissertação "Imagens da intolerância na mídia", especialmente sobre a intolerância religiosa. A fotógrafa também é co-autora da obra "Negros do Espírito Santo" (1999) e organizadora de "81 anos de cinema", catálogo de filmes do Espírito Santo (2007).Até o próximo dia 15, ainda estarão abertas à visitação as exposições "Foto Clube do Espírito Santo", no Espaço de Artes do Bandes, Centro de Vitória; "Espírito Santo em Preto e Branco", de Rogério Medeiros, na Galeria Francisco Schwartz, Assembléia Legislativa, Enseada do Suá; e "Mulheres de Tucum", de Edson Chagas, na Aliança Francesa, Praia do Canto.
Século Diário: - Qual a sua avaliação sobre o Vitória Foto, um evento de grande porte na área da fotografia, em sua primeira edição?
Carla Osório: - Muito positiva. Deu muito trabalho para ser realizado, mas eu acho que o resultado... Quando eu falo em resultado positivo, falo, principalmente, em relação à presença do público, que surpreendeu muito. Para que a gente fale de sucesso de público, a gente tem que lembrar que a fotografia realizada no Espírito Santo tem uma qualidade muito boa. O Espírito Santo é uma terra marcada pela fotografia. Mesmo. Pensando em todo esse movimento em torno da fotografia, que começou na década de 20, nós, que realizamos o evento, sabíamos que o resultado ia ser muito bom. Mas, em relação ao público, pensávamos que estava muito afastado do público. Ou seria o público que estava afastado da fotografia? Pelo menos, em relação à fotografia de salão, de galeria, de exposição...
- Por que será que isso aconteceu?

Acho que houve uma interrupção, vamos dizer assim... no meio do caminho. Se pensarmos que a fotografia tem passado pelo público, se pensarmos a partir desse paradigma, acho que essa passagem da imagem de película, da condição analógica para a digital, deu uma certa freada nos eventos. Acho uma bobeira dizer que a fotografia perdeu seu status. Alguns poderiam dizer isso, mas eu acho que não. O público digital aumentou, o envolvimento dos fotógrafos com esse tipo de profissão ficou diferenciado, com aquelas propostas anteriores, com aqueles desejos de realizar uma proposta mais autoral, acho que diminuiu. Por outro lado, vejo menos fotógrafos realizando seus projetos pessoais. Bom, há um pessoal talentoso na área. O que é que faltava no Espírito Santo? Faltava espaço. Faltava um espaço cultural que a fotografia no Estado já tem, mas que precisava de um empurrãozinho.
- Por que só agora aconteceu esse tipo de evento? Ou já estava sendo gestado?
- Olha, eu, por exemplo, já sabia que, no ano passado, Apoena Medeiros queria fazer um projeto. Eu seria convidada para ficar na mesa. Depois, fiquei sabendo que o projeto não tinha ido para a frente, por falta de dinheiro mesmo, de uma produção executiva. Esse foi um ponto, mas houve outro problema que a fotografia passou, que foi a perda de espaço político dentro do meio cultural. A avaliação que eu fiz foi que o projeto não tinha ido para a frente porque a fotografia acabou disputando com outros meios... e perdendo! Como, por exemplo, para o audiovisual. A produção audiovisual no Espírito Santo, com produções na área de cinema, por exemplo, cresceu e a produção fotográfica diminuiu. Isso fez com que a gente perdesse espaço em vários nichos, nos movimentos culturais, junto a instituições governamentais. Não uma coisa premeditada, mas acho que esse tripé produção fotográfica-público-apoio se dissolveu num determinado momento. Para o evento acontecer precisou-se resgatar, retrabalhar esse tripé. Por isso a gente conseguiu levar, mostrar, junto com o projeto, para o institucional, para os governos, para as instituições públicas, que o projeto era bom, que o Espírito Santo conta com bons fotógrafos, e que a fotografia tem tudo para mostrar o Espírito Santo, levar o Espírito Santo para a frente e trazer pessoas importantes da área para o Estado. Reunimos um número bom de fotógrafos, com eventos que o público quer participar, mostrando que a fotografia do Espírito Santo vale a pena.

- Como foi trabalhar com duas gerações, reunindo dois tipos de público, os veteranos na fotografia e a safra mais jovem?
- Pois é. Uma vez eu tinha escutado que faltava uma linha para o Vitória Foto. 'Carla, você não acha que está faltando um tema que una as exposições?' Eu falei: 'É, pode ser'. Na verdade, acho que nesse primeiro Vitória Foto fizemos o melhor que podemos. O Foto Clube do Espírito Santo foi uma das maiores surpresas. Eu, por exemplo, nunca tinha tido acesso ao Foto Clube, não conhecia Seu Magid (Saad, um dos fundadores do Foto Clube)... Eu já tinha lido alguma coisa sobre a produção dele, mas nunca tinha tido contato real com ele. E foi surpreendente porque o Foto Clube tem verdadeiros militantes da fotografia. Vamos lembrar que eles estão aí há 42 anos militando pela fotografia! A ponto de transformar no que seria um hobby ou uma expressão artística na vida dessas pessoas. Seu Magid é uma prova disso. Trabalhou num banco e tal... mas, se alguém perguntar qual a profissão dele, ele vai dizer que é fotógrafo. Então, foi, assim, surpreendente lidar com essas pessoas e também com o acervo fotográfico que eles têm. Eu queria abrir parênteses para dizer que tenho produção na área de audiovisual, especialmente na área de cinema. No último ano, havíamos feito um levantamento de toda a produção de película de cinema do Espírito Santo, em "81 anos de cinema no Espírito Santo". E a gente se deparou com todo esse acervo de imagens de cinema no Espírito Santo muito desgastado, mal conservado, perdido... E na fotografia a gente está no meio do caminho. Isso é uma preocupação. Quando entramos em contato com os produtores, muitas vezes não encontramos. Não encontramos um material importante, pois muitos não estão mais aqui, outros estão bem velhinhos... Procuramos investigar em que condições está esse acervo. Por exemplo, o acervo do Foto Clube só existe porque seu Magid existe. Enfim, pudemos descobrir também que essa memória iconográfica do Espírito Santo precisa ser cuidada. Mas, ainda dentro da sua pergunta, foi muito bom saber que, dos fotógrafos mais jovens que trabalhamos, foram os que fizeram oficinas de fotografia do Observatório de Favelas (RJ), pessoas que tiveram contato com a fotografia pela primeira vez. Tivemos um resultado surpreendente. Com o Observatório de Favelas do Rio formamos 16 novos fotógrafos. E o material é absurdamente excelente! Fotógrafos muito bons, com olhares muito bons e um material excelente.

Como foi trabalhar com nomes de projetos conhecidos como o Observatório e com Walter Firmo, fotógrafo conhecido nacional e internacionalmente? Como foi promover esse intercâmbio?
- Olha, foi fácil porque o Espírito Santo é muito atrativo. Se você conversar com fotógrafos do Brasil inteiro, todo mundo conhece os fotógrafos capixabas. Alguns deles já vieram aqui, têm amigos aqui. Temos um cenário maravilhoso para fotografar, temos uma cultura maravilhosa para fotografar... Quem não quer vir ao Espírito Santo? Então, foi muito bom. A receptividade das pessoas foi, automaticamente, muito positiva, principalmente em saber que o Vitória Foto reabre esse espaço de fotografia no Espírito Santo.
- Quais são seus projetos futuros? Há algum específico na área de fotografia? O que pode ser revelado ao público?
- Olha, acho que sou a única fotógrafa que tinha fotos que seriam expostas no Vitória Foto e não conseguiu realizar (risos). Fiquei dividida entre coordenar e realizar. Preferi coordenar e contei com o apoio de pessoas maravilhosas, que foram Apoena Medeiros e Fred Pacífico, e tantos outros. Mas se esse tripé não existisse o projeto não existiria. Eu quero muito poder realizar essa minha exposição, que se chama 'Loucos por inclusão'. Quero trabalhar com 'loucos' de rua e quero mostrar essa face dessas pessoas. Por que as outras pessoas têm tanto medo delas? Quero trabalhar em grandes dimensões. Não sei se será para o próximo Vitória Foto, que é bienal, ou... não sei se será antes.

- Este ano... Ou ano que vem...- (risos) Ainda não sei.
- O que você chama de 'grandes dimensões'?
- Grandes dimensões porque quero fazer em tamanho natural. Quero que as pessoas vejam o tamanho natural.
- O Vitória Foto contemplou a proposta de atrair mais pessoas ligadas à área de fotografia... Estamos falando de quem ainda não foi convidado...
- Sim, mas foi dentro de uma visão lúdica esse primeiro projeto. Acertamos bastante e erramos bastante. Nunca tínhamos feito nada antes parecido. Foi uma produção em vinte e poucos dias. Foi algo muito... intenso. Isso dá margem a erros. O segundo tem que ser repensado, no sentido do que pode ser mudado. Acho que tudo que é usado dentro de um modelo sempre aplicado, não gosto. Fica enjoativo, não é? Acho que para o próximo podemos pensar em rediscutir a proposta. Isso é importante, mas sempre 'linkados' com a idéia de trazer pessoas para o Estado. Algumas questões, como, por exemplo, um concurso fotográfico, não tivemos fôlego para realizar, e várias outras coisas. Seria um motivo a mais para a realização de fotografias no Espírito Santo.
- Inclusive, se o evento pensar num concurso, a produção executiva deverá pensar numa forma de premiação.

- Exato. Será maravilhoso realizar um evento incluindo um concurso com os olhares voltados para o Espírito Santo. Então, vamos conseguir produzir mais imagens aqui. E essas imagens já estão viajando, seja em blogs, fotologs ou mesmo em outras publicações, enfim... Outra coisa que acho que precisa muito no próximo Vitória Foto seria produzirmos um material, um catálogo. Por exemplo, essas imagens que colocamos, do Foto Clube, não estão em lugar nenhum. Seria interessante porque poderíamos oferecer essas imagens em catálogo para o Vitória Foto. São várias outras idéias que poderíamos anexar para outros eventos.
- O catálogo seria um bom cartão de visitas...
- Justamente. O convite que enviamos, em forma de cartão, muita gente guardou.
- Uma peça decorativa, emotiva.
- É, sim, amorosa... A fotografia gera sempre uma relação emotiva com a imagem materializada.

domingo, 25 de maio de 2008

Observatório de Favelas expõe fotos em Vitória



Foto e Cidadania

A fotografia nos faz recordar histórias, reviver momentos, pessoas... E muito além disso, o projeto Observatório de Favelas, lá do Rio de Janeiro, traz para a Ilha das Caieiras, um novo objetivo para a fotografia, o de promover a cidadania através das lentes.

Durante três dias, a equipe do observatório ofereceu uma oficina para crianças e adolescentes. O tempo foi curto, mas suficiente para encantar os participantes que, cada um com seu equipamento, procurava, pelas ruas de São Pedro, imagens a serem eternizadas. "O objetivo principal é despertar a curiosidade e a sensibilidade do olhar desses jovens para o que está a sua volta. Além disso a fotografia desperta senso crítico que também é muito importante para o ser humano" afirma o instrutor Fábio Caffé.

O trabalho não acaba quando se aprende a fotografar. "Eu e o Ratão fomos alunos do Observatório lá no Rio e hoje somos professores. Existe também o caráter multiplicador e nós, hoje educadores viajamos para dar oficinas nos mais diversos lugares" conta Caffé.

Depois de muitos cliques o instrutor Ratão Diniz, inicia o processo de edição e escolha do material que será exposto como resultado da oficina. "A galera tá de parabéns. Tem muita gente boa aqui" se orgulha Ratão.

As fotos foram expostas no pier da Ilha das Caieiras com projeção na parede de uma das casas. O cenário ideal. Jenifer (13), Carlos (15), Jessé (14) e Indiara (16), alunos da oficina, com olhares atentos, vibravam a cada foto estampada no muro. De fundo o som do grupo Barbatuque fez a trilha musical do momento. "Eu que nunca tirei foto fico muito feliz em poder retratar o nosso bairro, esse lugar. E ver as pessoas tirando foto me orgulha e mostra que posso ser fotógrafa um dia" conta Indiara.

Todo esse movimento das Caieiras faz parte de um projeto ainda maior, o Vitória Foto, que almeja transformar maio, o mês da fotografia na cidade. "Até 15 de junho acontece um verdadeiro circuito por espaços culturais e urbanos com fotografias para todos os gostos" convida a organizadora do evento, Carla Osório.

Exposições

Abstrato Extrato - Walter Firmo (RJ)
Abertura dia 8 de maio, a partir das 20 horas, na Galeria Homero Massena - Rua Pedro Palácios, 99, Cidade Alta, Vitória. Visitação do dia 9 de maio a 6 de junho.

Guaramare: no mundo de Vicente Bojovski - André Alves (ES)
Abertura no dia 13 de maio, às 19 horas, no Studio Base 40 - Av. Maruípe, 40, Fradinhos. Visitação do dia 14 a 30 de maio.

Espírito Santo em Preto e Branco - Rogério Medeiros (ES)
Abertura dia 15 de maio, a partir das 19 horas, na Galeria Francisco Schwartz, na Assembléia Legislativa - Av. Américo Buaiz, 205, Enseada do Suá. Visitação de 16 de maio a 15 de junho.

A Favela vê a Favela - Observatório de Favelas (RJ)
Abertura no dia 17 de maio, a partir das 15 horas, no Píer da Ilha das Caieiras, Rua Felicidade Correia dos Santos s/n - Ilha das Caieiras, Vitória. Visitação até 1 de junho.

Foto Clube do Espírito Santo - Coletiva de fotoclubistas
Abertura dia 20 de maio, a partir das 19 horas, no Espaço de Arte do Bandes -Av. Princesa Isabel, 54, Centro, Vitória. Visitação de 21 de maio a 15 de junho.

Mulheres de Tucum - Edson Chagas (ES)
Abertura dia 30 de maio, a partir das 20 horas, na Aliança Francesa - rua Alaor Queiroz de Araújo, 200, Enseada do Suá, Vitória.
Visitação de 2 a 15 de junho.
24/05/2008 Foto e Cidadania - Matéria publicada na pg do Programa Em Movimento

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Morre Dinha do acarajé - a Bahia perde um de seus ícones


16/05/2008 10:42
Dinha: preferida de famosos e mãe guerreira


A sorridente Lindinalva Assis tornou-se uma figura símbolo do Rio Vermelho, bairro da capital baiana que ganhou fama como reduto da boemia. Mais conhecida como Dinha, a baiana de acarajé começou a trabalhar aos 7 anos de idade, como ajudante da avó, Ubaldina, três anos após a morte da mãe, Rute. Ubaldina escolheu, em 1944, o Largo de Santana para montar o primeiro tabuleiro da família.
Aos dez anos de idade, com a doença da avó, Dinha assumiu o posto. Aos poucos, foi conquistando o público e consolidou seu produto como “o melhor acarajé da Bahia”. Na década de 1980, começou a excursionar pelo país e chegou a levar o acarajé ao exterior, participando de eventos como representante das baianas de acarajé.
A partir de 1998, a já consagrada quituteira passou a se dedicar a outro empreendimento da família. O restaurante Casa da Dinha, localizado em frente à praça onde fica o tabuleiro, é fruto do trabalho que rendeu à baiana a criação dos três filhos - Eliana Claudia Assis Cruz, Elaine Michele Assis Cruz e Edvaldo da Cruz Júnior - e garantiu para o Rio Vermelho o título de “point do acarajé”.
Depois de anos de trabalho, Dinha pôde se considerar uma baiana aposentada. Sua filha mais velha, Claudia, assumiu o posto na Praça de Santana, onde chegou a vender uma média de 700 acarajés por dia, além de outras iguarias como abará, bolinho de estudante e cocadas. Cláudia é formada em Ciências Contábeis, mas fez do tabuleiro também sua profissão.
Clientes famosos - Antes de criar o restaurante, era na praça que Dinha recebia os clientes famosos que ajudaram a consolidar o seu nome. Pierre Verger, Chacrinha, Suzana Vieira, Dercy Gonçalves, Mário Cravo, Dorival Caymmi, Daniela Mercury, Carlinhos Brown e o senador Antônio Carlos Magalhães já passaram por lá.
Alguns famosos entraram não apenas na fila de clientes, mas no hall de amigos de Dinha, como os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, o publicitário Nizan Guanes e a empresária do ramo de alimentação, Lícia Fábio.
A imagem que deixa para os amigos e familiares é de uma mãe guerreira que, sozinha, criou os três filhos, sempre com o ofício que aprendeu ainda na infância. A luta sempre fez parte de sua vida, o que a levou a superar o estigma da mulher negra, pobre e destinada ao fracasso.
Para toda a família, sempre foi considerada um porto seguro, e será lembrada como uma grande mãe. Para muitos funcionários que passaram pelo tabuleiro, também foi mãe, aquele que acolhe, acompanha, e vibra com o sucesso. Aos admiradores e "sobrinhos", que cativou sempre carinhosamente apelidando a todos de "meu filho", Dinha deixa a saudade do sorriso fácil e largo.
Clarissa Borges, do A TARDE On Line

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O ESPÍRITO SANTO EM PRETO E BRANCO - exposição de Rogério Medeiros


Dualidades que emergem no tempo e permeiam a história do Espírito Santo. Um Estado marcado pela diversidade dos muitos povos que o formam. São diferenças étnicas, geográficas e culturais, que de tão distintas, se assemelham. Conformes na relação de troca e respeito com a terra estrangeira que adquiriu o papel de lar. Iguais na perseverança e na comunhão social. Diferentes nos costumes, cores e tradições. Diversidades que se mantiveram e se mantêm a base de muito suor, trabalho, lágrimas e memórias que não desejam desaparecer.
O Espírito Santo em Preto e Branco, de Rogério Medeiros, traz à tona essa dualidade inseparável. Uma parte da complexidade do mosaico étnico do Estado se reflete nas imagens aqui apresentadas e sua distinção é harmonizada pelas lentes do fotógrafo. Suas diferenças tão evidentes se apresentam em análogas situações cotidianas. Os negros e brancos retratados são oriundos europeus e de quilombos. Juntos integram os diferentes biótipos capixabas e compõem um painel étnico nacional, sintetizado em um único território.
É a alegria de uma brincadeira, ou a beleza contida no olhar de uma criança. É a descontração das manifestações culturais, que com um pouco de música e diversão tentam abrandar a dureza do dia-a-dia. Ou a sabedoria marcada pelo tempo na pele dos mais velhos. Na mandioca ou no café, as mãos que ajudaram a construir o Espírito Santo. É a família que unida pelo trabalho vence as diversidades, ou a dor da despedida de um ente querido que, de certa forma, sempre iguala a humanidade.

domingo, 11 de maio de 2008

O Espírito Santo, uma terra marcada pela fotografia


O Espírito Santo é um Estado reconhecido nacionalmente pelo trabalho de vários fotógrafos que viveram e trabalharam aqui. Podemos dizer que o Espírito Santo foi palco de um movimento fotográfico ininterrupto desde a década de 20, quando o fotógrafo Paes registrou as obras de urbanização de Vitória.
Daí segue uma geração de fotógrafos que fizeram parte do Foto Clube do Espírito Santo (1946). Nestes 62 anos de atuação passaram pelo Foto Clube um time dileto de fotógrafos como: Ugo Musso, Dolores Bucher, Pedro Fonseca, Magid Saade, Dante Micheline, Érico Hausschield, Marinho Carlos, Paulo Bonino, Antonio Carlos Sessa Neto, Sagrilo, Manoel Rodrigues, entre outros.
Na década de 60, nascia o fotojornalismo no Estado. No extinto jornal O Diário trabalharam Rogério Medeiros, Paulo Makoto, Heraldo Carneiro e Joaquim Nunes. No jornal A Gazeta estreavam os contemporâneos Abílio Matos e os irmãos Lopes, José Carlos e Ailton.
A década de 70 nos revelou outros nomes importantes no fotojornalismo como: Gildo Loyola, Antonio Carlos Moreira, Joecir Secreta, Nestor Muller, Helô Santana, Ciro Denadai, Carlito Medeiros e Luiz Pajaú.
No sul do Estado, entre os anos 50 e 70, Cachoeiro de Itapemirim também apresentou um núcleo de bons fotógrafos, cujo prestígio foi além das fronteiras do município. São eles: Byron Tavares, Enoque Pinheiro e Guilherme Peçanha.
Na passagem dos anos 70 para os 80, no Centro de Artes, da Universidade Federal do Espírito Santo, atuaram as fotógrafas Márcia Capovilla e Simone Guimarães.
Ainda na UFES nos anos 80, trabalharam como professores de fotografia David Protti e Alexandre Curtis, no curso de Comunicação Social. Nas redações dos jornais encontramos Romero Mendonça, José Augusto Magnago, Chico Guedes, Margô Dalla, Secretinha, entre outros.

Destaque ainda para Humberto Capai, Vitor Nogueira, Flávio Santos e João Isau, fotógrafos que se dedicaram a áreas diferentes da fotografia, mas que reuniam habilidade com a película fotográfica.
Nos anos 90, uma geração de fotógrafos, jornalistas e documentaristas, se apresenta no Estado com exposições e publicações que retratam os diversos aspectos naturais, culturais, políticos e cotidianos da vida capixaba. Surge uma nova geração de fotógrafos como Sérgio Cardoso, Elizabeth Nader, Fabio Nunes, Tadeu Bianconi, Carla Osório, Alair Caliari, Carlos Alberto Silva, Edson Chagas, Zanete Dadalto, André Alves, Leonardo Bicalho e tantos outros que se destacaram no cenário fotográfico.
Tudo isso possibilitou o intercâmbio com fotógrafos de outros estados, que acompanharam de perto a produção fotográfica capixaba como o mineiro Sebastião Salgado, os cariocas Walter Firmo, João Roberto Ripper e Milton Guran, o paulista João Bittar, entre outros. Todo este movimento fotográfico possibilitou uma visibilidade ao Estado em publicações, galerias, sites e na grande imprensa de todo o país.
Sendo assim, este projeto pretende tornar o Espírito Santo, mais uma vez o cenário de um grande evento fotográfico. Em pleno outono, no mês de maio, quando a luz que banha o Estado de norte a sul contornando a sua geografia de tons inigualáveis, se realiza o VITÓRIA - FOTO.

Saudações fotográficas,

Carla Osório
Produtora Executiva
Vitória-foto

segunda-feira, 24 de março de 2008

Câmara da Serra homenageia negros

No dia 13 de março, data que marca a Insurreição do Queimado, a Câmara Municipal da Serra realizou uma sessão solene para homenagear personalidades negras. A homenagem principal foi feita a sambista Leci Brandão, que num discurso emocionado falou sobre a sua origem humilde e da importância de ter o seu trabalho reconhecido pelo povo serrano. "Eu fui batizada na igreja de São José, no Rio de Janeiro, e hoje assistindo a essa sessão solene passou pela minha cabeça o filme de minha vida", relata. A igreja do antigo vilarejo do Queimado também é consagrada a São José.
A Insurreição do Queimado, epsódio ocorrido há 159 anos que levou negros escravizados e insurgentes a entrarem para história, ainda não foi bem contada. O livro de Afonso Claudio, o único que ilustra as estantes das bibliotecas, conta que os negros trabalhavam de dia nas fazendas e a noite na construção da Igreja em troca de suas cartas de alforria, que lhes foram prometidas pelo padre José Gregório de Bene. Para a história oficial, os negros se rebelaram por que a promessa não fora cumprida, e desconhece qualquer poder de mobilização e estratégia política por parte dos líderes Chico Prego, Eliziário e João da Viúva contra o regime escravista. Mas para a Serra e para o povo Espírito Santo, eles são heróis.
O livro Negros do Espírito Santo, de autoria das jornalistas Adriana Bravin, Carla Osório e da historiadora Leonor Araújo também recebeu o título Chico Prego durante a sessão solene. A obra, que destaca a participação da mão-de-obra negra na construção do Espírito Santo e da cultura negra na formação da identidade capixaba, é uma voz destoante na historiografia do Estado.

Legenda: Leci Brandão e o vereador Roberto Carlos, proponente da sessão

Foto: Carla Osório

domingo, 23 de março de 2008

Morre a grande dama da cultura capixaba


Demorou uma semana para que eu conseguisse me expressar diante desta perda. Quando a gente perde alguém tão querido uma revisão de vida torna-se necessária. Mas não é para falar de mim que me sento nesta noite de domingo... é para falar dela da minha estimada amiga Rosilda. Antes de mais nada eu preciso dizer a voceis que os legados nem sempre são grandes feitos. Aqueles como obras que esburacam a nossa cidade e atrapalham a nossa liberdae de ir e vir. Os grandes feitos na maioria das vezes são silenciosos. Como por exemplo, exercer com amor o contato com as pessoas. Digo pessoas de todos os tipos, ou como diriam alguns os filhos de Deus. Rosilda era uma mulher especial na casa dela ou em sua companhia eram todos bem-vindos. De uma forma compassiva ela valorizava o melhor de cada um e acolhia de maneira especial todos aqueles que não combinavam com os outdoors da cidade. O mesmo ela fazia com a cidade. Com seu dom especial ela revelava para nós, seus seguidores, as belezas que a periferia esconde dos preconceituosos. Moradora de Santo Antonio, era na sua casa amarela que recebia a fina nata dos talentos, para quem sempre fazia festa. De novo o tratamento era igual para todos, tanto para os desconhecidos quanto para os artistas revelados. No fundo de sua alma, ela sabia que era uma questão de tempo para a cidade acordar da hibernagem, do seu sono cultural.

O enterro de Rosilda fez -se um cortejo. Reuniu o prefeito, o gari, os artistas, os bebados, os poetas, a velha guarda do samba, os funcionarios públicos e a balconista. A todos ela chamava de meus queridos. Do coração de Rosilda brota uma verdadeira lição de humanidade ou se preferir podemos chamá-la de direitos humanos. Este é o legado que a dona da casa amarela, mãe, avó e amiga-companheira, nos herdou sem alardes. E a cidade continua dormindo...


Saudade
Foto: Eu, Jace, Miriam e Rosilda numa noite de celebração

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Bloco Bleque quebra tudo em Itapuã



Numa apresentação pra lá de especial o Bloco Bleque recebeu num show na Praia de Itapuã, em Vila Velha (ES), os músicos Claudio Zoli e Gabriel Pensador como convidados. A mistura sonora de ritmos e sons que passam da black music de Claudio Zoli ao rap de Gabriel Pensador fez uma multidão de espectadores dançar sem parar.
O show trouxe momentos ímpares como união das vozes da bela Joana, vocalista da banda e sambista de coração, com a de Gabriel Pensador. Ou ainda os acordes das guitarras de Alexandre Lima e Claudio Zoli tocando a classíca "A noite vai ser boa. De tudo vai rolar..."
A formação do Bloco Bleque conta com diversos músicos do cenário musical capixaba: Gustavo Macaco (Símios) - vocal e guitarra; Alexandre Lima (Mahnimal) - vocal e guitarra; Joana Zancheta (Unidos de Jucutuquara) - vocal; Genivaldo (Diretor de bateria da Unidos de Jucutuquara) e mais 14 integrantes na bateria. O bloco conta ainda com as partcipações especiais do rapper Garcia e do cineasta Jeffinho nos vocais.
O repertório do bloco bleque reúne sucessos consagrados de boa música brasileira como Jorge Ben, Tim Maia, Sandra de Sá, Chico Science, O Rappa, Alceu Valença, Zé Ramalho.
O resultado musical é supreendente!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Cotas na Ufes II - desempenho dos candidatos negros

Apesar das cotas terem contemplado cerca de 40% de alunos egressos de escolas públicas na Ufes, o sistema de reserva de vagas, não incluiu os candidatos negros. Esta designação contraria o modelo adotado pela maioria das universidades no país que adotaram o sistema de cotas. Atualmente das 56 universidades federais, 20 adotaram algum tipo de sistema de cotas. As chamadas cotas raciais que reservam vagas para negros e/ou índios estão presentes em 15 universidades federais.
Apesar da Universidade Federal do Espírito Santo não adotar os sistema de cotas raciais, levando em consideração que a população negra representa mais da metade da população capixaba, segundo um levantamento realizado pelo professor Antonio Carlos Moraes, o número de alunos negros que ingressaram na Ufes no último vestibular foi expressivo. Vejam os números:



ÍNDICE DOS CANDIDADOTOS NEGROS (PRETOS E PARDOS) APROVADOS NOS VINTE CURSOS MAIS PROCURADOS




S/C: Sobra de vagas das cotas. (Asc) significa cotista que não precisaram das cotas.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Cotas na Ufes

Segundo o professor Antonio Carlos Moraes, membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), o balanço do primeiro Vest/Ufes com cotas para alunos egressos de escolas públicas foi um sucesso. Cursos disputados como de medicina, por exemplo, ampliou o número de vagas dos candidatos de que estudaram até 7 anos no sistema público de ensino, aumentou de 11,5% para 42%.
Por outro lado este resultado desagradou muita gente. Pais de alunos e diretores de cursinhos particulares estão prometendo ingressar na justiça, alegando que apesar de seus filhos terem obtido uma maior pontuação que os alunos cotistas, não foram aprovados no vestibular de 2008.
Anterior a esta iniciativa, um mandato de segurança foi movido por 48 alunos pedindo para suspender a resolução do sistema de cotas na Ufes, sob a alegação que a resolução feria o princípio constitucional da igualdade. O mandato de segurança que já foi julgado sofrendo duas derrotas, na primeira e segunda instâncias.
Para o jurista Hédio Silva, se as cotas nos vestibulares fossem julgadas no Supremo Tribunal Federal como inconstitucionais, esta decisão teria de valer para todas as outras modalidades de reserva de vagas, como as cotas para mulheres em partidos políticos e deficientes físicos nos concursos públicos, por exemplo.
No resultado do Vest/Ufes 2008 foram aprovados 794 cotistas. O sistema de cotas beneficiou ex-alunos da rede pública com renda familiar de até 7 salários mínimos. A prioridade foi dada a alunos que tivessem estudado 7 anos em escolas públicas, mas quem cursou pelo menos 4 anos, também foi contemplado.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Homenagem ao Poeta da Vila





Depois de assistir ao filme Noel - O poeta da Vila (2006), dirigido por Ricardo van Sten, resolvi homenagear ao sambista transcrevendo uma de suas belas composições que ele fez para sua amada Ceci, estrelada por Camila Pitanga. Conhecido como o filósofo do samba, Noel Rosa foi contemporâneo de Carltola e Wilson Batista. Compôs sambas memoráveis como Feitiço da Vila, Com que roupa e Palpite Infeliz. Apesar de ter se casado com Lindaura (1934) Noel viveu um torrido romance com Ceci, a dama do cabaré. Noel morre aos 26 anos vítima de tubeculose, deixando saudades na boemia carioca.

Último Desejo (1937)


Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

Noel Rosa (1910-1937)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Luto na Casa Branca

Aos 75 anos morre a venerável yalorixá da Casa Branca, Mãe Nitinha de Oxum, na tarde de segunda-feira em Salvador (BA). Nome emblemático do candomblé, Mãe Nitinha estava internada havia cerca de duas semanas no Hospital Evangélico de Brotas.
A Casa Branca localizada no centro de Salvador, em uma área de 6.800 metros quadrados, é considerada o mais antigo terreiro de tradição nagô do Brasil, sendo o primeiro monumento negro a ser tombado como patrimônio histórico na América do Sul.
O Terreiro da Casa Branca tem cerca de 250 anos, a partir dele surgiram terreiros tradicionais como o Gantois e o Ilê Axé Opô Afonjá. Dentro do templo, existem 40 residências e uma escola. A área do terreiro também abriga árvores e plantas consideradas sagradas pelos adeptos da religiões de matriz africana.
Na terça-feira começou o Axexê de Mãe Nitinha, ritual fúnebre que é realizado para pessoas iniciadas no candomblé.
Em 2005, Mãe Nitinha foi escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para representar o candomblé na comitiva, que foi à Roma por conta da morte do papa João Paulo 2º. Mãe Nitinha, não conseguiu embarcar porque perdeu o vôo que a levaria de Brasília a Recife, junto ao avião presidencial.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Steve Biko e a Mudança do Garcia


A Mudança do Garcia é uma das maiores manifestações de rua espontaneas do carnaval da Bahia. Lá tem de tudo homem vestido de mulher, bandas e fanfarras e principalmente a população negra baiana, que cai no samba.

Mas a parte mais inusitada é que a Mudança também têm críticas social e racial. Neste ano o Instituto Steve Biko, que trabalha com pré-vestibulares para afrodescendentes fez uma aula pública carregada de cidadania e para lá de animada para os foliões. Os bikudos colocaram nas ruas o tema do quilombismo e pediram terra e educação para a população negra.

Um outro fato curioso é que a passagem da Mudança pelo corredor do Campo Grande durou mais de duas horas atraindo a atenção da mídia. Segundo as estimativas cerca de 70 mil pessoas desfilaram, uma bela demonstração de que o espírito do carnaval ainda não foi dominado pelo mercado oficial do trios elétricos.

Odoya Yemanjá!!!!!


O dia 2 de fevereiro, consagrado a Yemanjá, é comemorado de norte a sul do Brasil. Neste ano a tradicional festa do Rio Vermelho, em Salvador, coincidiu com o sábado de carnaval. Mas todas ao obrigações religiosas foram feitas para agradecer ao orixá das águas. Rosas brancas e perfumes são as principais oferendas entregues ao mar, seguidas dos pedidos de bênçãos e proteção. Yemanjá, que na língua yorubá significa a mãe dos filhos peixes, é considerada no Brasil, a rainha do mar. Protetora da vida dos pescadores e da boa pesca, a devoção ao orixá ilustrou histórias imortalizadas na literatura brasileira, pelo escritor Jorge Amado.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Assim começa o coisa de preto...


Depois de tomar mais um banho de negritude numa breve estadia no carnaval de Salvador, na Bahia, resolvi criar este blog.
A idéia do coisa de preto é trazer para vcs informações e imagens da negritude brasileira, da África e de outros países da diáspora, que esta pretensiosa jornalista conseguir pisar.
Tudo com muita beleza, força e axé! É claro, vamos também discutir um pouco de política, cultura e outras pautas relevantes para o Brasil afrobrasileiro.
Sejam todos bem vindos! Pois quando a coisa é de preto sempre dá certo.
Ilê Aiyê - Foto: Carla Osorio